sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Planetary # 03: Em Hong Kong a vingança nunca morre!

PLANETARY # 03
Título original: Dead Gunfighters
Título em português: Pistoleiros Mortos
Publicação original: junho de 1999 (wildstorm/DC)
Publicação no Brasil: Authority/Planetary nº 3 (Pandora Books - 2001); Planetary: Ao redor do mundo (Pandora Books – 2003); Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria – 2005).

A história começa com uma seqüência de ação digna dos mais famosos filmes de ação chineses. O fantasma de um policial aparece para assassinar um grupo de criminosos, logo após eles assassinarem uma prostituta e estarem rumando para uma entrega de drogas. Os membros do Planetary testemunham a cena, pois estavam justamente em busca disso.

O escritório chinês do Planetary chamou a equipe de campo para investigar a lenda urbana mais famosa de Hong Kong, a do policial fantasma. A responsável pelo escritório, Michelle disse que nunca aconteceu nada nos seis anos em que trabalha lá, e Elijah Snow questiona Jakita pela informação, já que esta teria dito para ele que o Planetary não existiria há mais do que quatro anos. Jakita argumenta que até então nunca conhecera ninguém que trabalhasse para a instituição por mais de três anos.

As lendas locais dizem que sempre há o espírito de um tira traído e assassinado em Hong Kong, condenado a fazer justiça, até que outro policial seja também traído e morto e assuma seu lugar. A equipe do Planetary vai até o local onde aconteceu o mais recente assassinato de um tira em Hong Kong. Ele se chamava Shek-Chi-Wai, e junto com seu parceiro, Mok, estava investigando os responsáveis pela castração e assassinato do irmão de um astro de cinema, que tinha se recusado a trabalhar para as tríades do crime em Hong Kong. Como retaliação, seu irmão foi seqüestrado e teve suas genitais penduras na porta da casa da filha do tal astro. O Detetive Shek pegou todos os envolvidos no crime, até que eles soltaram o nome do mandante. O policial foi morto naquele beco, a caminho de prendê-lo. Seu parceiro, Mok, está desaparecido desde então.

O Baterista então capta um sinal de informação, e pede para que Jakita bata no chão para provocar alguma reação. O que acontece em seguida é surpreendente: uma estranha e enorme máquina salta do chão. Questionado por Elijah, o Baterista diz que a máquina é muito velha, uma pilha de discos rígidos com um enorme depósito de informação, mas ele não faz idéia de que tipo de informação.

É quando aparece o fantasma do Detetive Shek-Chi-Wai e diz que tal máquina é Deus: “É a única palavra que se encaixa. Um objetivo com mais de 100 mil ângulos diferentes”. Jakita lhe pergunta quem o matou, e ele diz que foi um homem chamado Tony, com a ajuda do seu parceiro da polícia, Mok. “Foi por isso que me trouxeram de volta. Vingança. E não apenas por mim, mas por todos nós”.

Ele pede para que encontrem a mulher que deixou e digam para que ela aproveite a vida, pois agora que ele morreu, descobriu que não existe nada melhor do que aqui, nem ao menos existe inferno para os assassinos e estupradores. É por isso que ele foi trazido de volta, porque eles precisam ser removidos agora, a vida é tudo que as pessoas tem e não pode ser ameaçada. “E ninguém entende isso melhor do que um tira traído e morto em Hong Kong”.

Mok então reaparece, e tenta usar seu carro para atropelar o grupo, mas Jakita o destroça. O fantasma então executa o traidor, enfurecido por ter que passar os próximos dias como uma fantasma matando trastes como aquele, até que um outro policial seja traído e morto na cidade. Ele se despede do Planetary dizendo que se eles vieram atrás de um mistério, não há nenhum ali para ser encontrado.



ANÁLISE


O próprio início da história emula a narrativa frenética dos famosos filmes de ação produzidos em Hong Kong, enclave inglês na China, que há poucos anos voltou a fazer parte do seu país natal.

Reparem que toda narrativa de John Cassaday é conduzida em long-views, como se a história fosse contada em telas de cinema. O próprio uso das cores de Laura Depuy, abusando bastante do escuro, e também usando um “filtro de luz” azul, dá a sensação que estamos vendo um filme.

John Woo: Papa dos filmes de ação de Hong Kong

Essa é uma das razões de haverem poucas palavras na história, uma vez que Warren Ellis com certeza homenageou o estilo cinematográfico dos diretores chineses, especial John Woo, famoso por suas seqüências de ação sem muitas falas, uso poético da câmera lenta e lutas coreografadas.

Já a trama deve fazer homenagem principalmente ao personagem da DC Comics, o Espectro, o espírito de um policial morto, que ganha poderes sobrenaturais e faz justiça com as próprias mãos. Talvez também tenha sido homenageado aí “O Corvo”, personagem criado por James O’Barr e que fez mais sucesso no cinema do que nos próprios quadrinhos.

No entanto, cabe notar que na própria tradição chinesa há muitas histórias de fantasmas, algumas das mesmas aparecendo nos filmes feitos em Hong Kong, inclusive com espíritos de tiras mortos buscando vingança.

Chow Yun Fat é o astro de Hard Boiled (Fervura Máxima)

Também é importante a referencia as tríades chinesas, organizações criminosas que remontam há centenas de anos na China. Nesta história, uma tríade tenta fazer com que um ator trabalhe para seu estúdio, como ele se recusa, eles seqüestram e castram seu irmão em retaliação. Essa trama também aparece num dos filmes de Bruce Lee, aliás, algumas teorias sobre a misteriosa morte do ator e artista marcial, dizem que ele fora assassinado porque se recusara a trabalhar para o estúdio de uma das tríades de Hong Kong.

É interessante notar que, aos poucos, Elijah Snow vai percebendo que o Planetary é uma instituição com uma certa história, não um empreendimento de momento. Se é assim, o quanto de conhecimento essa entidade já acumula e o que fez com ele até agora? E por que o tal Quarto Homem vem patrocinando isso há tanto tempo?

A própria trama da história é bastante ágil e simples, basicamente a equipe do Planetary vai à Hong Kong, descobre que o fantasma é verdadeiro, e investiga sua origem, descobrindo que tal fenômeno não é isolado, mas se repete ao longo das décadas, sempre que um policial é traído e assassinado, passa então a fazer justiça com as próprias mãos, até que outro policial sofra a mesma sina e ocupe seu lugar.

Quando a máquina fantasmagórica aparece, o fantasma a compara com uma divindade, por seu conhecimento ilimitado, por poder usar esse conhecimento para trazê-lo de volta, e por ter tantos ângulos que é impossível ao olho humano compreender toda sua vastidão. O Baterista pergunta se são 196.833. Esse é o numero de ângulos do floco de neve gerado pelo computador quântico criado por Axel Brass e seus aliados, descrito na primeira edição de Planetary. Seria a mesma tecnologia?

No caso, essa espécie de computador armazena, pelo visto, “espíritos” humanos, ou aquilo que cientificamente podemos chamar de resquícios psíquicos. Ou seja, todas as memórias, tudo aquilo que essencialmente faz um ser humano. A máquina então pode tornar algumas dessas impressões novamente em seres, mas não de carne e osso, e sim em “fantasmas”, como os policiais mortos de Hong Kong.

Jet Li é o Máscara Negra: Hong Kong também têm super-heróis

REFERENCIAS

Qualquer coisa que eu pudesse escrever sobre os filmes de Hong Kong, seria fruto de pesquisa, principalmente na Internet. Mas, para ser honesto, não há porque fazer um texto sobre o assunto quando o verbete na wikipédia é tão completo sobre o assunto.

Procurem pelo verbete “Cinema de acção de Hong Kong” (com dois cs mesmo, o autor é português). http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema_de_ac%C3%A7%C3%A3o_de_Hong_Kong

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Aviso aos exploradores planetários

Como puderam notar, nessa semana nosso blog careceu de atualizações. Por motivos de força maior pessoal e profissional, não tive tempo para concluir a grande matéria referente à terceira edição de Planetary, sobre o cinema de Hong Kong.

Mas antes que pensem que o blog já era, então fica o aviso: até domingo o blog terá novas atualizações, e prometemos voltar a fazer novas postagens com mais frequência. Queria agradecer os emails de apoio e principalmente os que pediram por novas matérias, sinal que o blog está sendo muito bem recebido.

Obrigado, e um abraço.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Planetary # 2: Monstros Japoneses

PLANETARY # 02
Título original: Island
Título em português: A Ilha
Publicação original: maio de 1999 (wildstorm/DC)
Publicação no Brasil: Authority/Planetary nº 2 (Pandora Books - 2001); Planetary: Ao redor do mundo (Pandora Books – 2003); Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria – 2005).

Um pequeno grupo chega à uma ilha nos limites do arquipélago japonês, próxima a Sibéria Russa. Desabitada por ser um local inóspito e por uma disputada política – tanto o Japão quanto à Rússia reivindicam sua propriedade – é local perfeito para meditar e traçar planos, segundo o líder do bando, que exige ser chamado de “mestre contador de histórias”.

Não é preciso caminhar muito para que eles enxerguem o cadáver de um imenso inseto gigante em decomposição.

Enquanto isso, a equipe de campo do Planetary está em Tóquio, visitando um dos escritórios da organização, que possui filiais no mundo todo. O diretor da estação japonesa, Shinya Fukuda, chamou os agentes do Planetary porque descobriu que um escritor japonês de má-fama e cinco seguidos invadiram a ILHA ZERO.

Oficialmente, esta ilha está em litígio porque tanto Japão quanto Rússia reivindicam sua posse. Mas extra-oficialmente, a verdade é bem diferente. A ilha é habitada por MONSTROS.

Fukuda só pôde revelar isso na presença pessoal de Jakita Wagner, Elijah Snow e o Baterista, porque é um assunto tão sigiloso que é arriscado mencioná-lo por qualquer tipo de comunicação eletrônica. Como o Baterista emite um campo antiescuta com cerca de cinco metros de alcance, só assim é seguro ter aquela conversa.

O escritor e seus seguidores acreditam em revolução armada, treinamento com armas, apocalipse e táticas de guerrilha. Agora, o Planetary precisa impedir que eles descubram algo que pode custar as suas vidas.

No entanto, o escritor e seus companheiros continuam fazendo novas descobertas, como o esqueleto de um grande animal de três cabeças, e a mais incrível, uma espécie de dinossauro, com o corpo quase intacto, em estágio de decomposição.

Eles entram dentro do cadáver, e o “mestre contador de histórias” se entusiasma com o achado, dizendo que aqueles monstros mortos representam a grandeza e horror do Japão. Diante de um grupo de seguidores estupefatos e assustados, ele exige que eles comam a carne podre da criatura. Um dos insurgentes protesta e se recusa a comer aquela imundice.

Nesse meio tempo, os agentes de campo do Planetary chegaram até a Ilha. Elijah e Jakita estão seguindo os rastros do grupo de fanáticos, quando Jakita – que tem supervisão pelo visto – enxerga o escritor disparando sua arma contra seu acólito rebelde.
O tiro chama a atenção de um destacamento militar que cerca o pequeno grupo. Os militares deixam claro que vão matá-los. O escritor então atira na sua mochila, onde um gás esverdeado sai e começa a matar todos.

Jakita, que estava correndo naquela direção para tentar ajudá-los, percebe que é tarde demais, e tenta correr do gás. No entanto, quando a nuvem venenosa chega perto de Elijah Snow, ele a congela, eliminando sua ameaça.

Snow então exige respostas de Jakita, e ela conta que tudo começou um dia após o ataque nuclear contra a cidade japonesa de Hiroshima. Os povoados das redondezas falaram de uma luz forte e de uma tempestade terrível. Assim, não se sabe o que aconteceu, só se sabe o resultado. Poderia ser resultado de explosões atômicas, ou alguém soltou um agente mutagênico. Talvez as bombas nucleares tenham aberto um portal dimensional. Ou algo extra-terrestre caiu ali...

Mas o fato é que cinco anos depois, a Ilha Zero estava cheio de monstros. Eles começaram a morrer na metade dos anos 70. Por alguma razão, nunca deixaram a Ilha e nunca se reproduziram. Os governos dos Estados Unidos, Japão e Rússia então colocaram uma pequena força de defesa e observação no local, para proteger aquele segredo.

Agora, estavam todos mortos. O Planetary tinha que esvaziar o lugar e sumir, antes que mandassem tropas substitutas. Foi então que uma mistura de pterodátilo e dragão enorme passou voando pelas cabeças de Elijah e Jakita que ficaram olhando, maravilhados, que nem todos haviam morrido...


ANÁLISE
Depois das apresentações no primeiro número, a fórmula da série se consagra nesta segunda edição, ou seja, sempre oferecer para o leitor uma história completa em cada número. Ainda assim, ela também é importante nas questões de continuidade, se notarmos que é aqui onde são mostrados os poderes de Elijah Snow pela primeira vez, ou seja, seu controle total da temperatura, o que explica quando os ambientes esfriam como uma resposta ao mau humor dele. Da mesma forma, ficam mais claros os poderes do Baterista, no caso sua habilidade de anular escutas, por exemplo. E descobrimos que além de força e invulnerabilidade, Jakita Wagner tem supervelocidade e pode “enxergar longe”.

Também vale ser notado que o Planetary tem escritórios no mundo todo, o que demonstra que é uma organização com muito tempo de atividade e com recursos financeiros imensos, além de acesso à informação quase-ilimitado, como mostra Fukuda ao mencionar que o serviço secreto japonês está de olho no escritor e seu bando de fanáticos.

A trama da história gira em torno da invasão da ilha pelo grupo de Ryu – “o mestre contador de histórias” – e seu pequeno séqüito, infringindo o acordo entre Estados Unidos, Japão e Rússia de que o acesso à Ilha estaria proibido, devido aos segredos que contém. Conforme citado na história, eles são uma mistura de Aum Shinrikio e Yukio Mishima. Aum Shinrikyo é o nome de um culto religioso extremista fundado em 1987 por Shoko Asahara, que chamou a atenção do mundo todo por causa do ataque com gás sarin no metrô de Tóquio, em 20 de março de 1995. O mesmo gás sarin que o escritor Ryu traz na sua mochila e que acabará por vitimar seu grupo e os militares que tentavam matá-los.

O “mestre contador de histórias” também é uma referência a Yukio Mishima, um escritor nacionalista japonês e ativista político, que também se suicidou como forma de defender suas idéias. Não é a primeira vez que Warren Ellis faz referência ao escritor, também numa das edições de Stormwatch (volume 1, edição 42, pra ser exato), uma ameaça terrorista também se inspira em Mishima para tentar levar o Japão a um suicídio coletivo.

Ellis explana se não seria essa fixação com robôs gigantes e armas poderosas, uma forma de muitos japoneses ainda sonharem com uma potencia imperialista, que expressa seu poder através das suas máquinas mortais. Os próprios monstros gigantes – em geral alienígenas – uma alusão aos invasores estrangeiros (no caso, os norte-americanos) e a destruição generalizada uma representação da tragédia que foram a destruição de Hiroshima e Nagazaki.

O que nos leva ao principal tema dessa edição de Planetary, que são os famosos monstros japoneses, os principais astros de um gênero de filme que no Japão é chamado de “Kaju Eiga” e que teve seu apogeu nas décadas de 50 e 60, com sucesso inclusive nos Estados Unidos.
As carcaças encontradas por Ryu e seus companheiros são exatamente referencia a quatro dos mais famosos monstros desse tipo de filme. A primeira carcaça é do monstro Mothra, que parece um tipo de mariposa gigante, mas ao contrário das aparências, é provavelmente o mais amigável dos monstros japoneses.

Logo a seguir vemos um esqueleto de um monstro alado de três cabeças. Com certeza se trata de Ghidorah, uma espécie de dragão, esse sim terrível e perigoso, provavelmente a mais poderosa criatura do gênero “Kaiju Eiga”.

O terceiro monstro avistado, e literalmente visitado, é uma enorme espécie de dinossauro, cuja carne em decomposição Ryu quer que seus seguidores comam. Essa criatura é Godzilla, o mais famoso dos monstros japoneses, e também o astro do primeiro filme do gênero.

Por fim, Elijah Snow e Jakita Wagner tem a sorte de avistar uma das criaturas ainda viva, sobrevoando a Ilha. Trata-se de Rodan, uma mistura de pterodátilo e dragão. Percebe-se também, pela pressa de Jakita em deixar a Ilha, que eles não estão lá de forma alguma sobre anuência dos governos dos Estados Unidos, Rússia e Japão, pelo contrário, eles aproveitam a oportunidade para levar amostras para suas próprias pesquisas e se preocupam em não deixar vestígios, uma vez que a reação dos guardas contra os intrusos, mostra que eles têm ordens expressas de que o segredo da ilha nunca saia dali.

Outra curiosidade sobre o assunto, é que a Ilha Zero lembra muito uma certa “Ilha Monstro”, que é a base do supervilão Toupeira, arqui-inimigo do Quarteto Fantástico, personagens da Marvel Comics. A Ilha Monstro é justamente chamada assim porque é habitada por gigantescos e pré-históricos monstros, a maioria sob comando do homem chamado Toupeira. Aliás, monstros gigantescos também foram moda nos Estados Unidos, e o principal gênero das histórias em quadrinhos publicadas pela Marvel na segunda metade dos anos 50 (quando a editora se chamava Atlas).


REFERENCIAS

QUANDO OS MONSTROS DOMINAVAM A TERRA

Tudo começou em 1954, quando a Toho, uma empresa japonesa de cinema, lançou GOJIRA (nos Estados Unidos, Godzilla), um filme de Ishiro Honda, com efeitos especiais de Eiji Tsuburaya. Inspirados no Tiranossauro Rex que enfrentava King Kong, no clássico filme de 1933, o produtor Tomoyuki Tanaka e Eiji Tsuburaya criara um monstro de escamas cinzas e ásperas, um poderoso rabo e várias barbatanas dorsais. Anatomicamente, ele tem o corpo de um tiranossauro, os longos braços de um iguanodonte e as barbatanas dorsais de um estegossauro.

O filme fez tanto sucesso no Japão, que dois anos depois foi lançada uma versão para o publico norte-americano (e que é a versão mais difundida no Brasil e América do Sul), onde foram incluídas seqüências com atores e personagens norte-americanos, substituindo as seqüências com atores japoneses. Como a maior parte da ação envolvia as seqüências de Godzilla destruindo cidades e combatendo aviões, helicópteros e mísseis, podemos dizer que 70% do original ainda era aproveitado. Essa “técnica” foi precursora do que anos mais tarde seria feito com séries japonesas do gênero Sentai, como Power Rangers e Masked Rider.

Estava iniciado todo um novo gênero de cinema, os “Kaiju Eiga” ou simplesmente “filmes de monstro gigante”; atualmente este gênero de filme é uma suddivisão de um gênero maior que no Japão é chamado de “Tokusatsu” (filme de efeitos especiais). Depois de Godzilla, vários outros monstros surgiram, tanto pela Toho, quanto pela concorrência.

Com tamanho sucesso, a Toho Film Company Ldta, produziu desde os anos 50, pelo menos 28 filmes estrelados por Godzilla. Uma das fórmulas do sucesso dessas continuações, para que o enredo não seguisse apenas a luta dos exércitos contra Godzilla destruindo cidades, foi criar novos monstros com quem Godzilla pudesse lutar.

Já foi assim no segundo filme, “Godzilla Raids Again” (1955), onde aparece “Anguirus”, um dinossauro extremamente competitivo que decide declarar o Japão território seu.
No ano seguinte, foi a vez do filme “Rodan” (1956), apresentando o monstro do mesmo nome, uma mistura de dragão com pterodátilo. Aliás, foi o primeiro filme em cores do gênero!

Em 1961, foi lançado “Mothra”, filme que apresentava o personagem-título, uma criatura que parecia uma mariposa gigante, mas ao contrário das suas antecessoras, era amigável e capaz até mesmo de se comunicar com as pessoas!

Um ano depois, a Toho teve a grande sacada de produzir o primeiro “crossover” entre monstros, lançando nada mais nada menos que o filme “King Kong versus Godzilla”! Essa fórmula seria a principal garantia do sucesso das continuações dos filmes de Gozilla nos anos seguintes, como “Godzilla versus Mothra”, em 1964, e “Ghidorah”, onde aparecia o mais poderoso e maléfico dos monstros japoneses, tão ameaçador que era preciso que Godzilla, Mothra e Rodan se unam para combatê-lo!
Com efeito, depois de “King Ghidorah”, o caráter de Godzilla foi sendo suavizado, e muitas vezes o monstro aparece como uma espécie de “anti-herói”, aja vista que salva a humanidade de criaturas muito piores.

Além dos filmes, Godzilla também teve seus próprios animes e mangas no Japão, além de desenhos animados e comics, nos Estados Unidos. Aliás, as histórias em quadrinhos norte-americanas foram produzidas nos anos 70 pela Marvel Comics, e escritas por Doug Moench. Foram 17 edições, onde a criatura interagiu com outras personagens do universo marvel, enfrentando o Quarteto Fantástico e a Shield.

A Hanna Barbera produziu na mesma época um desenho animado, que foi exibido nos Estados Unidos entre 1977 e 1981, e no Brasil passou nos programas Xou da Xuxa, TV Colosso e Angel Mix. Neste desenho, Godzilla ajudava a rede de pesquisas U.S. Calico a enfrentar monstros agressivos e arrogantes. Mas o pior de tudo é que ainda tinha seu próprio “sidekick”, Godzuky, uma espécie de “Godzilla Júnior”, que é sobrinho da criatura original, e na verdade, escada para as cenas cômicas do desenho.

No entanto, na segunda metade dos anos 70 a popularidade do monstro caiu vertiginosamente, tendo apenas dois filmes nos anos 80, para começar a recuperar interesse nos anos 90. Após cinco filmes em cinco anos no Japão, os norte-americanos resolveram lançar uma produção própria, dirigida por Roland Emerich, que então gozava de grande prestigio por causa do sucesso de seu filme anterior, Independence Day. Não foi difícil ele convencer a Universal a financiar uma grande produção baseada num dos seus personagens preferidos da sua infância. Mas o filme foi um grande fracasso de bilheteria, e alvo de críticas dos mais puristas.
Ainda assim, foi suficiente para uma nova série de desenhos animados, agora produzida pela Adeliade Productions. Essa série é continuação direta do filme de Emmerich, onde o bebê Godzilla sobrevivente cresce e se torna o principal aliado da “Equipe de Análise Ambiental Humanitária” contra outros monstros, no mesmo espírito dos filmes japonês originais e até os desenhos de Hanna-Barbera.

Enquanto isso, no Japão, a saga do Godizlla continua, sendo o ultimo filme lançado pela Toho em 2004, “Godzilla Final Wars”, que como o próprio nome tem a pretensão de encerrar a saga do gigante escamoso, e trouxe um grande elenco de outras criaturas famosas que ele já tinha enfrentando antes em outros filmes, mas nunca tantas numa única produção. Claro que não duvidamos, o dinheiro falará mais alto, e Godzilla voltará, fazendo aquilo que faz melhor: rugir e destruir Tóquio.


QUEM FOI YUKIO MISHIMA

Considerado por muitos como um dos melhores escritores japoneses do século XX, Yukio Mishima concorrer três vezes ao prêmio Nobel de literatura (sem no entanto, vencer nenhuma delas). Seu nome verdadeiro era Kimitake Hiraoka, e era descendente de uma tradicional família aristocrata japonesa, tendo samurais e guerreiros por ancestrais. Inicialmente, adotou um pseudônimo para poder publicar seus contos e novelas sem o conhecimento do pai, que era contra sua carreira literária. Conta-se que quando os livros começaram a fazer sucesso, Kimitake então revelou à família quem era e iria largar o emprego no Ministério das Finanças, ao que seu pai respondeu: “Já que vai seguir a carreira de escritor, que seja pelo menos o maior escritor do Japão”.

Apesar de ter servido no exército japonês durante a segunda guerra mundial, Mishima não pôde combater devido a problemas de saúde, e teve que se contentar em trabalhar numa fábrica de aviões. Ele lamentaria muito esse período, porque teve que ver morrer vários amigos, sem poder ele mesmo ter uma morte honrosa, como samurai, em combate.

Junto com o sucesso literário, Mishima adquire uma postura mais ativa e combativa, começa a praticar artes marciais e entra para o Exército de Auto-Defesa Japonês. É lá onde constitui a “Sociedade da Armadura”, um grupo de jovens que estudavam sobre a tutela e disciplina do escritor.

Nos últimos dez anos da sua vida, também atuou como ator em alguns filmes e até mesmo co-dirigiu a adaptação cinematográfica de uma das suas histórias. Apesar de casado desde 1958 e pai de dois filhos, consta que Mishima era bissexual e teria um caso com um dos seus alunos.

Em 25 de novembro de 1970, o escritor e seus discípulos renderam o comandante das forças de auto-defesa em Tóquio, e tentaram tomar o controle da guarnição. Mishima fez um discurso patriótico na tentativa de persuadir seus colegas soldados a segui-lo e restituir os poderes políticos do Imperador, tornado apenas figura decorativa, após a invasão das tropas americanas em 1945 – que impuseram o parlamento.

Diante das vaias dos soldados, Mishima então cometeu seppuku, assistido por Hiroyasu Koga, uma vez que parece que seu amante, Masakatsu Morita, não teve coragem de fazê-lo. Acredita-se que Mishima tenha ensaiado este momento com seus amigos por pelo menos um ano. Segundo seu biografo e amigo, John Nathan, ele teria criado esse cenário como pretexto para cometer o suicídio com que sempre sonhou.

Autor de 40 escritos, entre romances, contos, novelas, peças de teatros, ensaios e poemas, o principal legado de Mishima é literário. Seus livros mais famosos, e que tem até mesmo traduções em português, são Confissões de uma Máscara, O Marinheiro que perdeu as graças do Mar, e a tetralogia “Mar da Fertilidade”, considerada sua obra-prima.


Em suas obras e em seu próprio modo de vida, Yukio Mishima exaltou o imperialismo como forma de propagar e perpetuar a cultura e tradições japonesas. Para ele, a honra, a lealdade e o patriotismo que determinaram a vida dos samurais e dos soldados japoneses durante a Segunda Guerra, eram a essência do que era ser japonês.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Planetary no Brasil

Embora não seja um título com tantos percalços quanto Hellblazer, por exemplo, pode ser meio difícil para os leitores mais novos procurarem exatemente a verdadeira ordem de leitura da série. Bom, em primeiro lugar fiquem tranquilos numa coisa: Até agora, Planetary não teve uma edição sequer "pulada" aqui no Brasil, tudo vem sendo publicado em sequência (com excessão dos croosovers, mas isso é um outro post...). Assim, para orientar sua busca nos sebos e na Internet, e atendendo a pedidos, eis um "guia de leitura" com as publicações brasileiras de Planetary.

PANDORA BOOKS – A primeira editora que publicou Planetary no Brasil optou por lançá-lo numa revista em conjunto com a série Authority, outra célebre criação de Warren Ellis. Essa revista vinha no curioso formato “Flip-Top”, que já foi adotado nos tempos da Ebal, ou seja, eram “duas revistas em uma”. Uma capa era da revista Authority; Se você virasse ao contrário e de ponta cabeça, a capa era do Planetary; e vice-versa. Variando de 52 a 60 páginas, era metade para cada título. A publicação durou apenas 03 edições e teve uma periodicidade muito indefinida.

The Authority / Planetary durou apenas 03 edições - se o consumidor não prestasse atenção na banca, era capaz de levar dois exemplares da mesma revista por causa das duas capas, achando que eram publicações diferentes.


AO REDOR DO MUNDO – Ao Redor do Mundo foi um “encalhernado” lançado pela Pandora Books reunindo as três histórias do Planetary que eles lançaram na revista The Authority / Planetary.

DEVIR LIVRARIA – Editora especializada em “livros” e não em revistas, a Devir lançou Planetary na forma de encadernados. Foram dois volumes, “Mundo Estranho” (com 112 páginas) e “O Quarto Homem” (com 196 páginas). No entanto, esses volumes não correspondem aos originais americanos, uma vez que o primeiro encadernado de Planetary nos States reúne Planetary # 01 a 06, além do preview (publicado em Gen 13 # 33 e C-23 # 06), enquanto o volume um da Devir reúne Planetary # 01 a 04 e a história preview. As duas histórias que “faltaram” no primeiro volume (Planetary # 05 e 06) seriam inclusas em “O Quarto Homem”, que traz oito histórias (Planetary # 05 a 12). O original americano dessa edição trazia seis histórias (Planetary # 07 a 12).

Os dois volumes lançados pela Devir são os mais fáceis de achar ainda à venda, e trazem a saga completa do número 01 ao 12, além da história preview.


PIXEL MAGAZINE – É o nome da principal revista da Pixel Media, onde Planetary é um dos principais carros chefes. A editora optou por dar continuidade do ponto onde a Devir parou (planetary # 12) publicando mensalmente as aventuras de Elijah Snow & Cia.

O mapa da mina

Eis aqui a relação das histórias de Planetary publicadas no Brasil, detalhadamente para os novos leitores saberem o que procurar:

Planetary Preview: Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria)
Planetary # 01: Authority/Planetary nº 1 (pandora books); Planetary: Ao redor do mundo (pandora books); Planetary: Mundo Estanho (Devir Livraria).
Planetary # 02: Authority/Planetary nº 2 (pandora books); Planetary: Ao redor do mundo (pandora books); Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria)
Planetary # 03: Authority/Planetary nº 3 (pandora books); Planetary: Ao redor do mundo (pandora books); Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria).
Planetary # 04: Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria).
Planetary # 05: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 06: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 07: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 08: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 09: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 10: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 11: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 12: Planetary: O Quarto Homem (Devir Livraria).
Planetary # 13: Pixel Magazine nº 1 (Pixel Media)
Planetary # 14: Pixel Magazine nº 2 (Pixel Media)
Planetary # 15: Pixel Magazine nº 3 (Pixel Media)

Pixel Magazine, onde Planetary tem saído todos os meses desde Abril de 2007.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Planetary # 1: Pulp Fiction!


Planetary # 01
Título Original: All Over the world
Título no Brasil: Ao redor do mundo
Publicação Original: Abril de 1999 (WildStorm/DC).
Publicação no Brasil: Authority/Planetary nº 01 (Pandora Books – 2001); Planetary: Ao redor do mundo (Pandora Books – 2003); Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria – Abril de 2005).

Esta história começa num lugar não muito especificado, provavelmente algum deserto no oeste dos Estados Unidos, onde um homem chamado Elijah Snow é abordado por uma certa mulher que se apresenta como Jakita Wagner, representante de uma organização chamada “Planetary”. Jakita faz a proposta para Snow trabalhar para a organização, em troca de um milhão de dólares anuais e a promessa de ocultar sua existência do resto do mundo, o que aparentemente é um dos desejos de Snow, já que ele está vivendo como eremita há pelo menos dez anos, conforme mostra sua aparência. No entanto, conforme Jakita informa, ele tem pelo menos 100 anos de idade, razão esta que Snow é uma pessoa incomum e deseje viver anônimo.

No Quartel-General do Planetary em Nova York, Elijah Snow pergunta para Jakita quem é que paga todas as despesas, e ela revela que não sabe a identidade do dono do Planetary, só sabe que ele é “mais rico do que Deus” e que deseja coletar informações acerca da história secreta da Terra. Por isso ele é chamado simplesmente de “o Quarto Homem do Planetary”, uma vez que o grupo sempre tem três membros.

Snow chega a perguntar quem era o terceiro homem antes dele e o que aconteceu com ele, mas Jakita desconversa. Elijah então é apresentado então ao outro membro da equipe, o Baterista, que tem o poder de se comunicar com as máquinas, e segundo Jakita, é louco.

O Baterista informa que conseguiu informações acerca de uma caverna secreta, construída artificalmente, nas Montanhas Adirondacks. Jakita fica empolgada com a informação, uma vez que ela e o Baterista descobriram em documentos apreendidos dos russos que as Adirondacks foram apontadas como o ultimo paradeiro conhecido do Dr. Axel Brass, um renomado cientista e aventureiro da década de 30.

No vôo até lá, Jakita atualiza Elijah Snow sobre as informações a respeito de Brass: Ele nasceu em 1º de janeiro de 1900, a mesma data que vários outros indivíduos incomuns, e desapareceu em 1º de janeiro de 1945. Seus diários pessoais eram mantidos por um amigo de Brass, que morreu em Berlim, em 1945, e então foram saqueados por oficiais russos e levados para a KGB, que os esconderam numa caixa-forte. O Planetary recuperou a caixa-forte quatro anos atrás, e assim ficaram sabendo da existência de Brass: Há evidencias de que ele não só retardara o próprio envelhecimento, como não precisava mais de comida.

O Baterista descobriu a entrada das cavernas, protegidas por uma ilusão holográfica, e Elijah e Jakita adentram o local, indo parar inicialmente no que parece uma sala de troféus, incluindo esqueletos de estranhas criaturas. Mas é no salão principal que está a descoberta mais assombrosa: o próprio Axel Brass vivo e mutilado, aponta suas armas e diz que é melhor eles serem os mocinhos.

Jakita informa que as armas são inúteis contra ela, e Brass se convence que é melhor contar sua história: Ele eliminou sua necessidade por comida e sono em 1942, parou de envelhecer em 1943, e descobriu como fechar feridas com o poder da mente em 1944.

Da esquerda para direita: Hark, Jimmy, o Aviador, Axel Brass, Edison, lorde inglês e encapuzado mascarado.


No início de 1945, dispostos a pôr um fim a segunda guerra mundial, uma sociedade muito secreta e especial se encontrou no seu esconderijo nas Adirondacks. Eles o haviam construído dez anos antes, era o local onde descansavam, planejavam, discutiam e admiravam seus troféus. No resto do planeta existiam monstros e mistérios, coisas que o resto do mundo não queria saber que existiam. Eles tomaram a responsabilidade de lidar com isso.

Somos apresentado à “Edison”, cujo jaleco o aponta como um cientista; um certo Jimmy, que tem ar de agente secreto; um aviador com sua típica indumentária, incluindo óculos e capacetes; um lorde inglês, recém regresso da África, que usa uma pele de tigre como cachecol; um sombrio encapuzado, com uma aterradora máscara metálica, vindo de Chicago; e um oriental de cabelos compridos e grandes unhas, chamado “Hark”.

Axel e Edison informam que criaram um modelo avançado de computador, que não se limita apenas a fazer operações binárias baseado em dois estados de “ligado” e “desligado”. Como o mundo não é assim, apenas preto e branco, mas feito de situações que transitam por todos os pontos de “ligado” e “desligado”, ocupando todas as posições possíveis de uma só vez, elaboraram uma mente mecânica que pudesse pensar da mesma forma.

Um computador que pudesse pensar uma série de alternativas possíveis, nenhuma delas real, mas todas contribuindo para a realidade vigente; Essa máquina assim seria capaz de efetuar operações simultaneamente, não de maneira serial como na tecnologia binária. Esse cérebro quântico efetuaria cada cálculo através dos universos, cada resposta possível sendo processada num mundo diferente, cada universo alternativo desaparecendo, um a um, até que a resposta se tornasse real.

Hark então liga o aparelho, que fez aparecer na sala um efeito luminescente parecido com uma emaranhado de vidros se partindo em várias direções, e se quebrando, ao mesmo tempo se colorindo conforme a luz reincidia sobre eles; Hark chamou isso de “a forma da realidade”: um floco de neve teórico existindo em 196.833 espaços dimensionais. Cada rotação do floco de neve descreve um universo inteiramente novo e cada rotação cria uma nova Terra. “Este é o Multiverso”.

Edison explicou que o cérebro iria gerar aquele floco de neve, uma vasta extensão de universos, e permitir que cada um seja desligado e desapareça enquanto se aproxima da resposta correta. Portanto, ele processava e executava ações simultaneamente. Assim, se poderia codificar o mundo numa vasta cadeia de equações e receber de volta uma versão corrigida do Planeta Terra em segundos.

O grupo de Brass não havia se envolvido na Segunda Guerra Mundial porque não podiam prever as conseqüências de suas ações. Para eles, era muito complexo alterar o rumo da civilização, eram variáveis demais, seria impossível calcular todas as possibilidades que as ações de um grupo de pessoas tão especiais poderia provocar.

Por isso criaram o cérebro eletrônico: ele poderia fornecer uma equação capaz de terminar a guerra o mais rápido possível, com um mínimo de mortes, gerando uma sociedade mundial melhor. Havia também a possibilidade de que a equação resolvida pudesse reescrever toda a realidade, tornando sua resposta matemática uma verdade objetiva.

Com o consenso do grupo, eles colocaram a máquina de Brass e Edison para funcionar, com a equação matemática desenvolvida por Hark. O floco de neve aumentou, universos surgiram, seus ciclos de vida medidos em segundos... Mas o tempo se movia de forma diferente para aqueles universos recém-nascidos, para estes bilhões de anos se passavam.

Foi então que num dos fragmentos que mais se aproximavam da resposta correta, um grupo de pessoas cujo esconderijo estavam nas mesmas montanhas Adirondacks de outra realidade olhou para o outro lado, e percebeu que seu mundo estava a beira da destruição... E então atacaram.

Naquela noite, a sociedade secreta de Axel Brass salvou o mundo, dando suas próprias vidas para evitar que aqueles superseres de outro universo destruição à Terra para dar passagem para o universo deles. Apenas Brass sobreviveu, com as pernas esmagadas. Ele não podia abandonar a máquina, nem desligá-la, por isso teve que ficar ali todos aqueles anos esperando caso mais alguma coisa atravessasse o portal aberto pelo “floco de neve”.

Os membros do Planetary desligam a máquina e resgatam Brass. Elijah pergunta para Jakita se o Planetary conseguiu o queria, e ela responde que acabaram de obter um computador quântico criado há cinqüenta anos atrás por uma sociedade secreta de super-humanos que ninguém sabia que existiam. “Nos saímos bem”.



ANÁLISE & COMENTÁRIOS

A primeira edição de Planetary já começa com alguns mistérios: Se Elijah Snow tem quase 100 anos de idade, como isso é possível? Por que ele passou os dez últimos anos como um eremita no deserto? Quem é o Quarto Homem? Qual o superpoder de Elijah (além de obviamente envelhecer muito lentamente)?.

Somos apresentados aos personagens principais e temos um primeiro vislumbre de suas personalidades: Elijah é um sujeito meio amargo, com algum dom para a ironia, e aparenta impaciência; Jakita Wagner tem muita confiança naquilo que faz e não tem medo de dar ordens; Já o Baterista é um cara totalmente despojado com a vida e alheio no seu próprio “mundinho”.

Mas a grande atração desta edição é a homenagem à pulp fiction: a literatura popular norte-americana dos anos 20 e 30, como ficou conhecida. As pulp magazines eram chamadas assim porque seu papel era feito de polpa de arvore, ou seja, um tipo de papel muito vagabundo que amarelava e se estragava facilmente. Mas era justamente por ser barato, que essas revistas podiam ser vendidas por 5 centavos de dólar e foram uma verdadeira febre, principalmente durante a grande depressão americana.

Afinal, em meio a pobreza geral, ter uma forma de entretenimento barata era fundamental pra quem encontrava na fantasia uma forma de escapar por alguns momentos da dura realidade. Nas páginas dessas revistas apareceram personagens antológicos, que foram o carro chefe de dezenas de publicações, e encadernados em livros de grande tiragem mais tarde. São alguns destes principais personagens que foram homenageados nas páginas deste número de Planetary.

Por uma questão de direitos autorais, Warren Ellis não podia chamá-los pelo nome, nem John Cassaday podia desenhá-los exatamente como são. Por isso inventaram “substitutos”, que embora tenham nomes diferentes e aspectos ligeiramente modificados, ainda assim deixam claro se tratarem de grandes personagens do imaginário popular. Pra quem não os conhece, ou não consegue identificar a todos, eis aqui a verdadeira identidade de cada um:

AXEL BRASS = DOC SAVAGE

O aventureiro de pele dourada foi um dos personagens mais populares dos pulps dos anos 30: o visual de Brass é muito parecido com “o homem de bronze”, além de habilidades similares, como perfeição física e envelhecimento retardado.

LORDE INGLES = TARZAN O lorde inglês que foi a África para visitar “fantasmas da sua infância” só pode se tratar de Tarzan, também conhecido como Lorde Greystoke. Seu tipo físico e a encharpe de pele de tigre denunciam isso.

ENCAPUZADO = O ARANHA Muita gente pode pensar em se tratar do Sombra, mas o escorpião bordado no sobretudo aponta se tratar do Aranha, uma das melhores imitações do Sombra dos anos 30, e seu maior rival de vendas.

EDISON = TOM SWIFT Um inventor com esse nome, nos faz pensar em Thomas Edison, mas na verdade trata-se do jovem cientista Tom Swift, protagonista de uma série de livros infanto-juvenis que vão do começo do século XX aos anos 90.

HARK = FU MANCHU Cabelos, bigode e unhas não deixam mentir: Hark é Fu Manchu, que de inimigo da civilização ocidental, aqui aparece como um dos “mocinhos”.

JIMMY = OPERADOR Nº 5
James Christopher é o nome do agente secreto da série “Operator number 5”, um popular pulp magazine dos anos 30.

AVIADOR = G-8

Pulp Magazines com histórias de pilotos aventureiros eram populares durante os anos 30. Em Planetary # 05 ficou mais claro em se tratar que esse piloto que aparece nessa história do Planetary é uma homenagem ao herói da revista “G-8”.

Pois bem, os grandes heróis das pulp magazines se reuniram e montaram uma “sociedade secreta”, que tinha base no interior das Montanhas Adirondacks, nos Estados Unidos. A sua ultima ação conjunta foi desenvolver um computador quântico para tentar salvar o mundo da grande guerra que acontecia na época (1945).

Eles não se envolveram na Guerra com medo das conseqüências de suas ações, pois se julgavam seres de grande poder, e poderiam mudar a face do planeta. Mas que direito tinham de determinar sozinhos como seria o Planeta perfeito? O computador iria simular universos paralelos, até criar a Terra Perfeita, mas algo deu errado, porque esses universos ficcionais realmente existiram numa realidade matemática, e um deles se recusou a morrer, quando seus superseres tentaram invadir nosso mundo para preservar o seu.




Os mais atentos vão notar que esses sete superseres de outra dimensão se parecem com os clássicos super-heróis da DC Comics: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e Caçador de Marte. Ou seja, a Liga da Justiça da América.

A ironia está que, na vida real, foi realmente o aparecimento dos super-heróis (liderados pelo Superman, em 1938) que precipitou o fim da popularidade dos heróis das pulp magazines. Ou seja, no mundo real, a Liga da Justiça realmente levou a melhor!

Mas nesse gibi do Planetary, a sociedade secreta de Doc Savage, digo, Axel Brass, conseguiu vencer e expulsar os invasores.


REFERÊNCIAS

As Pulp Magazines

Sombra, Zorro e Conan foram personagens que surgiram nas pulp magazines.


Eles vieram antes das revistas em quadrinhos, antes das matines de cinema e antes dos programas aventureiros de rádio; A literatura popular norte-americana era a grande forma de entretenimento na década de 20 e 30. Por apenas 5 centavos de dólar, um mundo de imaginação e aventura se abria para milhões de leitores.

Foi nas páginas das revistas pulps que apareceram personagens como Tarzan, Zorro, O Sombra, Fu Manchu, Buck Rogers, Conan, entre muitos outros. Ao contrário de muitos heróis da literatura cuja presença se limitava a um romance ou dois, esses personagens primeiramente apareciam numa simples novela, para depois, caso houvesse uma grande popularidade, estreassem uma série de novas histórias, incluindo revistas próprias!

A demanda era crescente e para suprir o mercado não bastava um escritor por personagem. Afinal, eles eram em geral propriedade das editoras que compravam suas primeiras histórias (se apropriando assim de todos os caracteres ali surgidos), e eles podiam dispor deles como queriam, a despeito ou não da opinião do autor. Mas para dar uma ilusão de “unidade artística”, se usava um pseudônimo geral para cada série, ou seja, muitos escritores anônimos assinavam como a mesma pessoa, tudo para o publico pensar que seu autor preferido continuava a frente de determinada série.

Com o surgimento da rádio, do cinema e das histórias em quadrinhos, muitos foram os personagens de pulps que também fizeram histórias em outras mídias. A começar pelo próprio Tarzan, muito conhecido, mas realmente “muito pouco lido” no seu formato original, a literatura.

Buck Rogers ficou mais famoso nas tiras em quadrinhos do que nas pulps propriamente ditas; Os filmes do Zorro viraram febre tanto no cinema quanto seu programa na TV (produzido pelo Disney); O programa de rádio do Sombra marcou época; Conan só seria popular de fato cinqüenta anos depois, graças aos quadrinhos (e dois filmes com Arnold Swarzenegger); os exemplos são inúmeros, mas não há dúvida que muito da industria cultural e de entretenimento de massa deve muito à essas revistas baratas, ou pulp fiction, como é chamado o gênero nos Estados Unidos.


DOC SAVAGE

Apesar de mundialmente não ser tão popular quanto Tarzan, Zorro ou mesmo O Sombra, a revista de Doc Savage foi um dos pulps mais vendidas na sua época. A questão é que ao contrário dos seus contemporâneos, o personagem não teve sorte nas outras mídias, fossem adaptações pro cinema, histórias em quadrinhos ou rádio.

Mas na sua forma original, as histórias de Doc Savage eram imbatíveis. Em grande parte porque ao contrário de muitas outras séries, eram praticamente escritas por um só autor, Lester Dent, com ocasional ajuda de Will Murray, usando ambos o pseudônimo de “Keneth Robson”. Tal produção é extraordinária, já que Doc Savage teve ao todo 181 edições publicadas entre março de 1933 e junho de 1949.

Doc Savage era fruto de eugenia, na verdade, um experimento de uma sociedade secreta, em busca do ser humano perfeito. Além disso, foi criado desde o nascimento para “lutar contra o mal”, por isso se tornou especialista em uma série de habilidades: mestre em artes marciais, com pleno domínio do corpo e da mente, podendo exercer poderes mentais, como telepatia e hipnose, além de ser mais forte e resistente que um ser humano comum. Cientista, aventureiro, inventor, explorador, investigador, músico, Doc é um “homem renascentista”.

Uma vez que Planetary # 5 se concentra ainda mais na figura de Axel Brass / Doc Savage, vamos deixar para tal momento uma matéria exclusiva sobre o personagem. Por enquanto, basta saber o seguinte: Doc Savage foi um grande ídolo na década de 30, o personagem preferido de Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Superman, por exemplo. Talvez se não fosse por Doc Savage não existisse Superman, pois foram aquelas revistas que despertaram a imaginação de dois jovens que iriam criar todo um gênero nos quadrinhos (os super-heróis). Não é a toa que o nome do Superman é Clark Kent. Afinal, o nome de Doc Savage na realidade é Clark Savage Jr. E Kent é uma corruptela clara de “Dent”. Mas a coisa não para por aí: Doc Savage também tinha um refugio no Ártico, chamado Fortaleza da Solidão!


TARZAN

Antes de começar a escrever, Edgar Rice Burroughs já tinha tentado de tudo na vida, de inventor a vendedor, sem conseguir fama, fortuna, sequer uma casa própria. Foi quando vendeu um conto para uma pulp magazine. Assim, surgiu a novela “Tarzan dos Macacos” em 1912, com sucesso imediato. Logo foi encadernada sob a forma de livro, desencadeando outro fenômeno de vendas. A essa, se seguiram vinte e nove continuações.

Tarzan é filho de aristocratas ingleses, porém foi criado por macacos “mangani” na África, após a morte dos seus pais, ainda criança. Quando a gorila que o adotou é morta pelo chefe do bando, o mesmo macaco que matou os seus pais, Tarzan se vinga, e com isso se torna “rei dos macacos”. Além de destreza, resistência e forças incomuns, Tarzan também tem habilidade de se comunicar e até comandar a maioria dos animais.

Após ter salvo uma expedição cientifica norte-americana na África, Tarzan é alfabetizado pelo professor Porter, e se apaixona por Jane, sua sobrinha. No entanto, ela está noiva de William Clayton, que logo descobre ser seu primo verdadeiro. O nome real de Tarzan é John Clayton III, herdeiro do titulo de Lorde Graystoke. Apesar de num primeiro momento renunciar ao titulo e a fortuna, mais tarde ele os aceita.

Tarzan foi muito cedo descoberto pelo cinema, tendo estrelado até mesmo um filme mudo, em 1919. Mas foi a partir da série de filmes estrelados por Johnny Weismuller, a partir de 1932, que o homem-macaco ganharia o mundo. A partir de 1929 suas histórias foram adaptadas para as tiras de quadrinhos nos jornais, com grande sucesso, por Hal Foster e mas tarde, Burne Hoggart, dois dos maiores desenhistas de quadrinhos da sua época.

Como Planetary # 17 trata exclusivamente da lenda de Tarzan, vamos deixar para este momento uma matéria exclusiva sobre o Rei dos Macacos. Aguardem e confiem.


FU MANCHU

Apesar dos personagens principais das novelas de Sax Rohmer serem Sir Nayland Smith e Mister Petrie (que é o narrador das histórias, aliás), não é a toa que Fu Manchu seja muito mais conhecido do que seus antagonistas. A começar pelo título da primeira novela em que apareceu “O insidioso Doutor Fu Manchu”, publicada pela primeira vez em 1912. O sucesso foi tal que Rohmer, ao invés de simplesmente escrever novas histórias dos agentes britânicos, preferiu “ressuscitar” Fu Manchu (que teria escapado da morte no último segundo) e assim usar sempre seu nome nas demais novelas que escreveu.

Com efeito, Fu Manchu foi umas das primeiras séries onde o vilão ocupava um lugar de primeira grandeza, porque era de longe bem mais interessante que os heróis que o combatiam. Nayland Smith era uma mistura de Sherlock Holmes com Alain Quartemain, mais pela energia, não pelo talento dedutivo, que tinha muito pouco, aliás. Mister Pietri sim fazia às vezes do Dr. Watson, narrando as histórias onde seu parceiro corria os maiores riscos.

Já Fu Manchu era um gênio do crime que havia fugido da China após a Revolta dos Boxers, estando do lado derrotado. Agora, tinha como objetivo destruir a civilização ocidental, principalmente o Império Inglês, que havia dominado e explorado a China. Fu Manchu também era um cientista e especialista em venenos, além de ter criado um certo “Elixir Vitae” que lhe dava imortalidade e perpetuou a sua vida por décadas. Ele desdenhava de armas e explosivos, e preferia seus mortíferos assassinos que usavam artes marciais, espadas, facas e venenos como principais armas. Além de seus perigosos e raros animais peçonhentos, toda uma variedade de escorpiões, aranhas e serpentes.

Mas foi graças ao cinema que Fu Manchu deve muito da sua popularidade: primeiro na Inglaterra, depois nos Estados Unidos, podemos contar os filmes estrelando Fu Manchu em mais de duas dezenas! Destaca-se principalmente a série de cinema em quinze episódios “Drums of Manchu”, considerada uma das melhores produções do gênero na década de 40. Outra encarnação muito famosa é “A máscara de Fu Manchu”, onde Boris Karloff deu vida ao terrível vilão.

Outro grande Fu Manchu, e o preferido de muitos, é Christopher Lee, que fez uma série de filmes interpretando o vilão na década de 60. A última aparição de Manchu no cinema foi na pele de Peter Sellers, em 1980, onde o ator também interpretou Sir Nayland Smith!

Nos quadrinhos, Fu Manchu é mais conhecido aqui no Brasil por sua participação chave na série “Mestre do Kung Fu”, onde fazia o pai e maior inimigo do herói, Shang Shi, que eventualmente se torna agente do MI-6 e aliado de um envelhecido Sir Nayland Smith. No entanto, nos anos 80 a Marvel Comics perdeu os direitos de utilizar o nome do personagem Fu Manchu, e desde então têm-se evitado referencias diretas à ele. Na sua ultima aparição, ele foi chamado simplesmente de “Han”, embora mantenha grande parte do visual “Fu Manchu”.

Mas muito antes disso, Fu Manchu já estrelara suas próprias histórias em quadrinhos. Primeiro em tiras publicadas nos jornais ingleses adaptando diretamente as novelas originais escritas por Sax Rohmer. Depois, nos Estados Unidos, na Detective Comics (sim, a revista onde surgiu o Batman!) marcou presença da edição 17 ao número 28, até ser destronado pelo Homem-Morcego como carro-chefe da revista.

Allan Moore fez dele um dos principais vilões da primeira mini-série da bem-sucedida “Liga Extraordinária”. No entanto, por questões de direitos autorais, Fu Manchu foi ali chamado de “O Doutor”, assim como neste gibi de Planetary, nós o conhecemos como “Hark”.

Muitos críticos combatem as obras contendo Fu Manchu, uma vez que Sax Rohmer foi acusado inúmeras vezes de ser racista e xenófobo, e seu personagem Nayland Smith seria a expressão da opinião do autor sobre as culturas estrangeiras. No início do século XX, o ocidente tinha total estranheza e pavor pela civilização oriental, especialmente a chinesa, tal tem hoje com o mundo islâmico.

Esse tipo de medo e preconceito com os chineses e povos orientais, acabaria sendo retratado no uso de vilões terríveis como Fu Manchu, que gerou uma série de outros vilões inspirados nele, dos quais podemos citar: Doutor No (inimigo de James Bond); Garra Amarela (inimigo de Nick Fury); Ming, o Impiedoso (inimigo de Flash Gordon); Mandarim (inimigo do Homem de Ferro); e Ras Al Ghun (inimigo do Batman).


O ARANHA

Um milionário mascarado que faz justiça com as próprias mãos, matando violentamente os criminosos. Essa poderia ser muito bem a descrição do Sombra, o mais famoso dos vigilantes das pulp magazines, dos anos 30. E tal sucesso tentou ser repetido por inúmeras outras editoras, que lançaram uma série de imitações do personagem, tentando o mesmo sucesso.

A mais digna dessas imitações foi “O Aranha”, personagem criado por Harry Steager, e publicado entre 1933 e 43, nos Estados Unidos. A razão pelas quais O Aranha se destaca das demais imitações do Sombra é principalmente devido a grande qualidade dos seus textos, em muitas vezes, com histórias superiores ao próprio Sombra.

A identidade secreta do Aranha é do socialite e detetive amador Richard Wentworth, que era um veterano da 1ª Guerra Mundial. Além da máscara e do capuz, ele também usava um anel com uma aranha estilizada, que deixava uma marca nas suas vítimas. Suas armas preferidas eram duas 45 automáticas, mas também usava uma silenciosa arma de ar comprimido quando queria ser discreto, além de trazer um punhal nas suas botas.

Como matava criminosos a sangue frio, o Aranha era obviamente caçado pela polícia, no caso, seu melhor amigo, o Comissário Stanley Kirkpatrick, que embora privadamente apoiasse as ações do Aranha, oficialmente o caçava, e desconfiava inclusive que Wentworth fosse o Aranha. Sim, qualquer semelhança com o Batman não pode ser mera coincidência...

O Aranha num dos seus filmes nos anos 40. Estiloso, não?


O Aranha teve também duas séries para o cinema nos anos 40, com quinze episódios cada. Nos quadrinhos, ganhou uma mini-série nos anos 90, escrita e desenhada por Timothy Truman, publicada pela Dark Horse Comics. No entanto, a maior contribuição do Aranha para os quadrinhos está no fato de se um dos personagens preferidos dos pulps de STAN LEE, que revelou ser ele uma das inspirações para a criação do Homem-Aranha. Embora a única coisa que os dois personagens partilhem em comum seja o nome, Stan revelou que por ser fã do “The Spider”, ele a muito tempo pensava num super-herói que se chamasse “Spider-Man”.


TOM SWIFT

Tom Swift era o jovem protagonista de uma série de livros infanto-juvenis que começaram a ser publicados na primeira década do século XX e ganhou continuas novas séries, até os anos 90. Seu criador é apontado por alguns como Howard Garris, embora muitos outros tenham escrito, todos sob o pseudônimo de “Victor Appleton”. O jovem Tom Swift era um inventor e aventureiro, que viajava pela América (e depois pelo mundo) inventando coisas, salvando pessoas e arranjando encrenca, não necessariamente nesta ordem.

Na verdade, há dois Tom Swifts: o Tom Swift original, e depois seu filho, Tom Swift Jr, também cientista. O Tom Swift original foi publicado entre 1910 e 1941. Suas invenções eram um pouco mais realistas, e embora fosse um material originalmente para o publico infanto-juvenil, suas histórias eram mais maduras do que seriam as de seu filho.

Já Tom Swift Jr teria grande popularidade a partir da década de 50, numa série de livros infantis, mostrando as aventuras de um “menino cientista”. Essa mesma série de livros foi relançada nos anos 90, com novas aventuras.


OPERATOR NO. 5

Operator No. 5 era um herói que apareceu em sua própria pulp magazine, Secret Service Operator # 5, publicada entre 1934 e 1939. Diversos autores escreveram suas histórias, todos sob a alcunha de “Curtis Steele”. Provavelmente o personagem foi criado por Frederick Daves, que escreveu as 20 primeiras edições.

O protagonista das histórias eram o agente secreto James Christopher, também chamado “operativo número 5”. Poderíamos dizer que ele foi o precursor de James Bond, Napoleon Solo, Flint, e vários outros espiões que surgiriam mais tarde. Em geral, Christopher lutava contra estrangeiros inimigos dos Estados Unidos, que planejavam entrar em guerra pelos mais variados motivos.

Na verdade, o que mais chama a atenção sobre a série, era seu aspecto “seriado”. Na época, a maioria absoluta das aventuras dos heróis pulp eram auto-contidas, não tinham lá muita conseqüência umas com as outras. Mas não Operator 5. Era tudo em seqüência, como muitos seriados de TV hoje em dia, mas uma grande novidade para a época.

Uma das sagas mais emblemáticas durou 13 edições: “A invasão púrpura” mostravam um império de origem germânica (numa alegoria a Alemanha) conquistando os Estados Unidos, e Jimmy Christopher sendo líder dos rebeldes contra o Imperador Maximiliam I.


G-8

G-8 and his battle aces era uma das revistas mais vendidas da Popular Publications. Ao contrário de muitas outras séries, foi escrita única e exclusivamente por um único individuo que assinava seu próprio nome: Robert J. Hogan, ele mesmo um ex-piloto da força aérea norte-americana. A publicação teve 110 números, entre outubro de 1933 e junho de 1944.

Mas embora o personagem principal fosse um aviador – cujo verdadeiro nome jamais foi revelado, aliás – as histórias estavam longe de se aterem a combates aéreos e dramas de guerra. Pelo contrário, assim como Doc Savage, G-8 era um mestre dos disfarces, era um espião do nível do Operativo 5, e combatia vampiros, lobisomens, zumbis, cientistas loucos, raios da morte, robôs e outros inventos científicos.

O sucesso foi tal que é claro apareceram uma dezena de imitadores. Como é muito difícil encontrar uma história original de G-8 pra ler, fica a dica: Quem assistiu ao filme “Capitão Sky e o Mundo do Amanhã” pode ter exatamente uma idéia de qual era o clima das histórias de G-8.